Sexta-Feira-13 parte 3 se difere dos outros, pois aqui temos uma personagem que eu gosto de chamar de “ponto de tensão extra” do filme, ou seja, há um drama pessoal, um trauma na jovem Chris Higgins.
Ok, eu sei que Tommy Jarvis passou por maus bocados nos capítulos seguintes, mas a questão aqui a coisa ganha tons não revelados, vale ressaltar que acompanhamos a mente de Tommy ao longo de 3 filmes todos sabíamos muito bem o que ele havia passado. Aqui não, eu diria que a situação é sombria e obscura, tanto pela perversidade de natureza não tão comum para a série, quanto pela inicial nebulosidade da questão, uma experiência muito particular de Chris.
Ela inicialmente condena os namorados Andy e Debbie por só pensarem em sexo, e levanta uma barreira diante do pretendente Rick como ele mesmo fala para ela. O que temos aqui? Uma pessoa visivelmente traumatizada e marcada por uma passado na qual ela mesma conta posteriormente para Rick, que naquela mesma floresta 2 anos antes, fora atacada por um homem grotesco e que para o desespero dela ela não lembra do que houve, e muito menos seus pais não quiseram tocar no assunto. Um estupro? Pensariam os mais atentos. Jason não a matou, por que? Que espécie de maníaco se apresenta aqui?
Abro parênteses aqui para uma referência extraída do site ajudaemocional: Segundo a psicóloga e perita Ester Esquenazi, explica que a vítima (de estupro) tende a negar qualquer tipo de sentimento e prazer para que sofra menos e acaba se tornando insensível aos vínculos que possam trazer deleite. Por esse motivo, inclusive, a insensibilidade dos órgãos genitais se torna uma forma de defesa.
Vejam bem, não estou afirmando categoricamente que ela foi vítima de estupro, mas este fator "suspenso no ar", é um ingrediente inquietante, um fator que enriquece o ambiente de incerteza sobre isto.
Como eu dizia, Chris está marcada mentalmente, perdeu a naturalidade, é agora uma pessoa lesada psiquicamente, de comportamento afetado e tolido, que frente ao menor estímulo estranho reage com medo e hostilidade. As reações dela ao longo do filme são um somatório total, que revelam toda uma angústia que irá transformar numa bola de neve insustentável, no momento em que o as situações vão degringolando e confluindo para o inevitável encontro com o seu algoz.
Jason aqui interpretado por Richard Brooker, é claramente uma figura repulsiva e disforme, tanto fisicamente quanto na maneira de agir. Não só seu rosto, mas seu torso é deformado formando inclusive uma leve corcunda, a face de Jason aqui remete há um legítimo demente, na qual é possível exprimir sorrisos de aspecto nojento, de um homem que ainda conserva seu extinto de proteção (como nas tentativas de esfaqueá-lo de Chris) e dor, o que o afasta de uma fantasia de monstro intocável, (como nos filmes seguintes) e o aproxima do espectador num misto de terror e realidade. É uma figura que a todo o momento espreita numa estética herdada de um sensacional Halloween lançados anos antes.
Talvez o que acontece de mais apavorante aqui, seja o fato de que Chris voltou para o lugar para provar para si mesmo de que era mais forte do que pensava, e de fato ela venceu Jason, mas não passou incólume por uma nova e brutal experiência com o mesmo algoz, o que lhe resultou num trauma ainda mais profundo como se pôde ver no final do filme. A pergunta que fica, afinal ela realmente venceu o mal? Lembre-se do final da maioria dos outros filmes onde os protagonistas terminavam aparentemente bem ( Tommy Jarvis fora tomado o que aparentemente lhe reduz ou anula consciência de dano) mas aqui para a total infelicidade de Chris uma nova chaga fora deixada dentro dela, ela perdeu, e perdeu tanto quanto seu amigos mortos, perdeu um bocado de si mesma e sabe-se lá o que houve com ela após tudo isso...
Poucas coisas podem ser tão horríveis quanto ser nocauteado por um trauma ao tentar vencê-lo, sendo amarrado psicologicamente por tempo indefinido.
Percebam, Sexta-Feira-13 parte 3 trabalha sutilmente com pontos muito além de um roteiro de matança linear. Contém uma das melhores perseguições da série, somado à uma trilha sonora que entra no cérebro.
Hoje depois de tantos filmes depois terem sido lançados, a série perdeu algumas coisas e ganhou outras, mas infelizmente perdeu o que aqui neste filme ainda havia, o terror inicial e atmosférico. A funcionalidade da estética como as janelas batendo, o desespero dela (Chris) no meio da ventania naquele cenário desolado, o próprio celeiro que se torna um local de convergência entre outras coisas que ainda se conservavam puras (no sentido de âmago de terror)
Depois de tantos e tantos filmes, e a banalidade que reinou inevitavelmente sobre a fórmula e a série, posso dizer que um dos maiores defeitos de Sexta-Feira-13 parte 3 é ser justamente um Sexta-Feira-13. Como se ele fosse agora apenas mais um entre tantos outros, mas que merece ser descoberto e que carrega consigo pontos subjetivos interessantes que poderiam ter sido até mesmo mais potencializados nesta película. É por estas afirmações que eu gostaria que ele não fosse um Sexta-Feira-13, que fosse apenas um filme isolado (da maneira como eu o vejo e o sinto) creio que soaria muito mais assustador do que estando imerso no turbulento mar de sangue e descuido desta série hoje tão popular.
Estas são minhas considerações sobre este ser o melhor de todos os “Friday the 13th”.
Dedico este trabalho aos amigos que compartilham desta mesma opinião que eu (e também aos que não compartilham he,he), a galera da comunidade do Orkut Jason Voorhees Brasil- Reboot, galera do Boca do Inferno e todos aqueles que adoram este gênero e fazem dele passatempo e diversão.
Ressaltar também o trabalho de Dana Kimmell que faz aniversário hoje (dia 26) que foi peça fundamental neste filme, demonstrando muito talento ( comunidade dela no Orkut na qual sou dono http://www.orkut.com.br/Main#Community?cmm=104315264)
Tenham também um ótimo Halloween! Valeu!